21 de abril de 2010

Nada é por acaso


Parte 3/6

Com 3 quilos e 400 gramas, João Paulo veio ao mundo.

Aos gritos e choros, o Dr. Silas tratou de entregar aquele pequeno ser nos colos de sua mãe Soraide, ao final do parto normal. Estava ali em bebê perfeito, forte e com muita saúde. O primogênito de Américo e Soraide só vinha coroar toda uma história de amor que havia se iniciado anos atrás, nos bancos de um colégio.

Por conta da gravidez, os planos de trabalho tiveram que ser suspensos, mas não interrompidos. Era momento de cuidar do primeiro filho que estava por vir e a situação de Soraide e Américo permitia que ela pudesse esperar um pouco mais para começar a trabalhar.

O período de gravidez de Soraide foi muito tranquilo, porém não menos preocupante. Os constantes enjoos e algumas pequenas quedas de pressão acabaram por fazer parte do cotidiano da família. O que ninguém esperava, era que aquela aparente tranquilidade estava sendo colocada em xeque.

Com quase 9 meses de gestação, Soraide foi acometida por fortes dores lombares. Fato absolutamente normal se não fosse por um detalhe: durante todo o período de gravidez, a mãe de João Paulo não havia sentido nenhuma dor sequer.

Mãe olha ali”, apontava Soraide a um pequeno urso de pelúcia que segurava um ramalhete de rosas e que escorria juntamente com a água da chuva, quintal a fora. “Eu não sei o que aconteceu, mas depois de chutar aquele ursinho com as rosas que estavam na minha porta, comecei a sentir essas dores”.

D. Zoca, uma fervorosa religiosa, captou o sinal. Mais do que depressa, pediu para chamar Calu, seu filho mais velho. Com certa dificuldade, Soraide foi colocada dentro do Bandeirantes da família com destino à casa do “Seu Teles”, um dos trabalhadores da mineradora de Muro Quadrado.

Tiveram que esperar por alguns momentos. “Seu Teles” tinha acabado de chegar do serviço e, suado, se refrescava com um copo de água. Já na sala, perguntou o que tinha acontecido, quando D. Zoca explicou. Soraide, até então, não estava entendendo nada. Não era mais fácil falar com Dr. Silas? D. Zoca, na serenidade de sua sabedoria, afirmava que existem coisas em que o mundo humano se dobra ao mundo espiritual.

Seu Teles pediu para que todos ficassem na sala, enquanto ele e Soraide entraram num pequeno altar, montado nos fundos de sua casa. O altar era lindo, cheio de imagens santas, velas e crucifixos, mostrando a forte devoção religiosa daquele senhor.

Um momento de profunda oração se iniciava. Soraide, não sabia rezar. Apenas fechou os olhos e confiou. Sentada numa cadeira de fios, inquieta, balançava as pernas que insistiam em doer. Talvez, pelo nervosismo de não saber o que estava acontecendo. Talvez, pela experiência espiritual que estaria prestes a iniciar.

A medida que as orações se intensificavam, as dores de Soraide aumentavam na mesma proporção. Seu Teles, ajoelhado no altar dedicado a Nossa Senhora Aparecida, rezava fervorosamente segurando um pequeno ramalhete amarrado com cordas de cipó.

As orações ficavam mais fortes. As dores também. Soraide ficou com medo e chorou. O choro fez com que Calu se preocupasse lá do lado de fora, mas D. Zoca o segurava pelo braço e dizia, calmamente: “confia, meu filho”.

Seu Teles parecia estar mais suado em suas orações do que quando realizava seus trabalhos na mineradora. Soraide já não conseguia mais ficar com os olhos fechados. O choro já era ouvido por toda a vizinhança que começava a se aglomerar na frente da casa de Seu Teles. “O que está acontecendo?”, perguntavam os curiosos vizinhos.

Como num acesso de fúria, Seu Teles rasga violentamente aquele ramalhete que estava em suas mãos e após se prostrar ao chão, se cala, respirando ofegantemente. Soraide já não chora; apenas murmura. A “platéia” fora da casa ficou curiosa com o desfecho final. E um suave aroma de jasmim foi sentido por todos os presentes. As dores de Soraide não existiam mais.

Seu Teles chamou para a sala onde se encontrava juntamente com Soraide, D. Zoca, Calu e Américo que tinha acabado de chegar depois do trabalho, e deu o “diagnóstico”. “Minha filha, existem pessoas que querem que você tenha muita dificuldade em seu parto. Esse trabalho que foi feito, foi para que você perdesse seu filho na mesa da maternidade. Mas fique tranquila. Nossa Senhora interviu e você terá um parto abençoado. Siga em paz. E que Deus a acompanhe e abençoe a toda sua família.

Américo e Soraide não sabiam o que levava a pessoas a cometerem esse tipo de atrocidade. Que mal eles haviam feito? Qual era o erro cometido? O de serem felizes? O de se amarem? A inveja e outros tantos sentimentos a ela atrelados havia dado as caras naquela família, mas a primeira batalha já estava ganha.

Salmos, 90 (91)

1. Tu que estás sob a proteção do Altíssimo e moras à sombra do Onipotente, // 2. dize ao SENHOR: “Meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio”. // 3. § Ele te livrará do laço do caçador, da peste funesta;// 4. ele te cobrirá com suas penas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te servirá de escudo e couraça.// 5. Não temerás os terrores da noite nem a flecha que voa de dia,// 6. nem a peste que vagueia nas trevas, nem a epidemia que devasta ao meio dia.// 7. § Cairão mil ao teu lado e dez mil à tua direita; mas nada te poderá atingir.// 8. Basta que olhes com teus olhos, verás o castigo dos ímpios.// 9. Pois teu refúgio é o SENHOR; fizeste do Altíssimo tua morada.// 10. Não poderá te fazer mal a desgraça, nenhuma praga cairá sobre tua tenda.// 11. Pois ele dará ordem a seus anjos para te guardarem em todos os teus passos.// 12. Em suas mãos te levarão para que teu pé não tropece em nenhuma pedra.// 13. Caminharás sobre a cobra e a víbora, pisarás sobre leões e dragões.// 14. § “Eu o salvarei, porque a mim se confiou; eu o exaltarei, pois conhece meu nome.// 15. Ele me invocará, e lhe darei resposta; perto dele estarei na desgraça, vou salvá-lo e torná-lo glorioso.// 16. Vou saciá-lo com longos dias e lhe mostrarei minha salvação”.

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