19 de abril de 2010

Nada é por acaso


Parte 1/6

O Governo usava da repressão para conter aos que insistiam em gritar em favor da sociedade. A Europa passava por uma profunda transformação política/cultural. Ícones do mundo pop eram exaltados e endeusados, ao mesmo tempo em que a Igreja se debatia em uma série de problemas internos.

Nesse cenário, Américo e Soraide.

Américo era filho de imigrantes russos. Soraide, filha de agricultores de subsistência.

Na pacata cidade de Mundo Quadrado, no rico estado produtor de minério de ferro, a recém chegada da família de Américo causava desconfiança. Afinal, o que aqueles branquelos com sotaque estranho faziam ali?

Indiferentes aos comentários da população, Américo escolhe Mundo Quadrado para recomeçar sua vida, após fugir da perseguição do governo russo aos produtores de vodka de sua antiga região.

Soraide era tímida. Aliás, muito tímida. Era a caçula de 7 filhos da D. Zoca, conhecida quituteira da cidade. Muito alegre e receptiva, D. Zoca foi a primeira a cumprimentar os novos moradores.

Américo tinha pouco mais de 20 anos. Soraide, 18. Ele, de uma rara inteligência e muito articulador. Com essas características, não foi difícil fazer novas amizades. O idioma não foi um problema para ele. Américo tinha uma inteligência acima da média e ao chegar em Mundo Quadrado, já sabia ao menos se comunicar basicamente com todos.

Soraide também era muito inteligente. Teve seus estudos comprometidos já que tinha que auxiliar seus pais na lida rural. Os estudos ficaram um pouco de lado, mas não sua inteligência e sua beleza selvagem. E que beleza!

Muitos diziam que o trabalho de sol a sol e o contato com a terra bem como o trabalho diário na horta da família, fizeram com que Soraide desenvolvesse uma pele mais aveludada que as moças da região. Cremes, hidratantes e protetores solar eram artigos de luxo para a família, que se protegia do forte sol com o suco obtido da batida de abacate. Aquela mistura consistente, quase um creme, poderia ser a causa de tamanha beleza daquela garota.

Américo e Soraide não se conheciam. Estudavam na mesma escola e na mesma sala. Mas enquanto ele era o centralizador da turma, com inúmeras brincadeiras e muita participação em sala de aula, ela apenas observava.

A timidez de Soraide quase a deixou em apuros. Naquele ano, os professores optaram por avaliar seus alunos através de exames orais repentinos, sem aviso prévio. Não havia discussão quanto a competência de Soraide em ter o total e pleno conhecimento dos assuntos que ali eram debatidos. O problema era ela abrir a boca.

Américo, por outro lado, se deleitava com tais exames. Já dominando bem o idioma, Américo não tinha dificuldades em responder as questões. Tido como o melhor aluno da sala, ele passou a ser referência em vésperas de provas. Afinal, todos queriam saber qual era seu segredo.

Sabendo que poderia ser útil aos colegas e querendo aperfeiçoar seu idioma ainda mais, Américo pediu para que Luzinete organizasse um grupo de estudos que poderia ser realizado em sua própria residência, na Vila Peté, região situada às margens de Mundo Quadrado.

Luzinete era uma boa aluna. Esforçada e muito atenta às aulas. Mas tinha um baixo poder de concentração. Américo procurou Luzinete porque queria se cercar de pessoas que realmente quisessem estudar para as provas e sabia que, ao pedir para ela organizar um grupo de estudos, as pessoas por ela convidadas seriam as que efetivamente estariam interessadas em aprender.

Luzinete então opta por um pequeno grupo, composto de 5 pessoas. Além dela e Américo, Ruth (da rica família do fazendeiro Zé Pinga), Terêncio (humilde, filho de mãe prostituta com um desconhecido pai caminhoneiro) e Soraide.

E naquele final de tarde de outono, com o sol já parcialmente encoberto por nuvens e pássaros (muitos) cantando, como um fundo musical perfeito para o cenário, Américo e Soraide enfim se conhecem. Num grupo de estudos da cidade de Mundo Quadrado. E seus destinos se entrelaçam.

Um caminho cheio de surpresas estava por vir.

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