16 de março de 2010

Afetividade refinada

Alguns meses atrás, eu estava assistindo a uma pregação do Pe Fábio de Melo que me chamou atenção.

Ele falava sobre a questão da afetividade humana, muitas vezes ferida, mal tratada e até mesmo esquecida, quando lidamos com as pessoas em nossa volta.

E fez um comparativo interessante. Ele disse que não podemos ter uma afetividade refinada. Um açúcar refinado, por exemplo, ele é digerido mais facilmente e por isso, nosso organismo não tem um trabalho para gastar energia e dissolver aquela glicose. Consequência disso? Obesidade.

Por isso, devemos dar preferências a alimentos integrais, quando o organismo tem que trabalhar mais para digerir o que está em nosso corpo fazendo com que haja um maior gasto calórico.

Obviamente que ressalvando as devidas proporções, comungo desse mesmo ensinamento do Pe. Fábio. Vivemos hoje num mundo onde a grande maioria das pessoas busca relacionamentos refinados, seja em sua afetividade, seja no tratamento entre as partes.

Muitas pessoas carregam em seu subconsciente problemas de relacionamentos que tiveram durante a infância, adolescência, ou até mesmo na fase adulta. Muitos desses problemas tiveram origem familiar, seja por brigas entre os pais, separação e até mesmo agressões físicas.

Aquela pessoa que vivenciou toda essa narrativa carregará, para sempre em sua memória, lembranças daquele período. Terapias e acompanhamentos psicológicos podem ter o condão de amenizar aquelas lembranças ou, até mesmo, fazer com que elas sejam encaradas com outra realidade. Mas jamais serão esquecidas.

E aí reside o problema quando tratamos de relacionamentos afetivos.

Devemos ter em mente que a pessoa que buscamos para ser nosso marido/esposa, namorado/namorada, não tem culpa do nosso histórico afetivo/sentimental.

Não devemos projetar na outra pessoa a felicidade que não obtivemos no passado; não podemos fazer nosso(a) parceiro(a) refém de uma situação da qual ele(a) nunca fez parte. Seria como imputar um crime a alguém, sem ao menos lhe conceder um direito de defesa.

Infelizmente, isso é mais comum do que se possa imaginar. A grande maioria das pessoas, de maneira inconsciente, acaba buscando no outro um refúgio, um porto seguro, uma baía calma de águas límpidas e serenas, ao invés de querer e ansiar por alguém que possa ser seu companheiro(a) para o resto de sua vida e compartilhar com ele(a)todas as alegrias e tristezas que cercam um relacionamento.

Esquecemos que a pessoa que estará ao nosso lado não vivenciou aquela situação desagradável que tentamos esquecer mas, ao mesmo tempo, projetamos nessa mesma pessoa, a solução desse problema. Esquecemos que queremos alguém para amar e não para culpar. Isso é um equívoco abissal.

Como dito anteriormente, não temos mecanismos para desativar do nosso cérebro toda aquela situação que lutamos para esquecer. Mas temos mecanismos para conviver com essa mesma situação de uma maneira menos dolorosa. Entregar nas mãos do Senhor todas as nossas feridas sentimentais é o primeiro passo.

Lembro-me de uma conversa que tive com meu pai, sobre relacionamentos afetivos. Ele me confidenciou que os motivos que o levaram a se casar com minha mãe não são os mesmos motivos que o levaram a estar com ela até hoje... Gente, isso é de uma profundidade incrível. Me fez refletir muito sobre o que eu penso sobre relacionamentos e sobre o que eu almejo em relação a eles.

Sabemos que não existe príncipe encantado, tampouco princesa encantada. Todos temos nossos erros, faltas e falhas. Vamos errar muito durante a longa jornada de nossas vidas, seja ela pessoal e/ou afetiva. Mas jamais devemos atribuir aos outros os erros por nós cometidos, seja por ingenuidade, sejam por feridas do passado.

A felicidade e o amor são uma decisão. Queira dar certo. Queira ser feliz. Problemas vão surgir sempre, mas devemos nos adaptar às realidades nas quais seremos os personagens principais.

Relacionamentos integrais não é sinônimo de cobrança sem fundamento, não é sinônimo de descarga emocional, muito menos prisão afetiva.

Relacionamento integral é aquele que palavras nunca dizem nada, quando os olhares podem dizer tudo.

A maior prisão que podemos ter na vida é aquela quando a gente descobre que estamos sendo não aquilo que somos, mas o que o outro gostaria que fôssemos. Geralmente quando a gente começa a viver muito em torno do que o outro gostaria que a gente fosse, é que a gente tá muito mais preocupado com o que o outro acha sobre nós, do que necessariamente nós sabemos sobre nós mesmos.O que me seduz em Jesus é quando eu descubro que nEle havia uma capacidade imensa de olhar dentro dos olhos e fazer que aquele que era olhado reconhecer-se plenamente e olhar-se com sinceridade. Durante muito tempo eu fiquei preocupado com o que os outros achavam ao meu respeito. Mas hoje, o que os outros acham de mim muito pouco me importa (a não ser que sejam pessoas que me amam), porque a minha salvação não depende do que os outros acham de mim, mas do que Deus sabe ao meu respeito.
Padre Fábio de Melo

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